quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Vivências Fora do Corpo - entrevista no Sem Censura

Atendendo a pedidos de meus leitores e inúmeros amigos, posto aqui alguns trechos de minha participação no programa Sem Censura, acontecida em agosto deste ano (2010). Estive algumas vezes no programa, pra falar de meus livros.


É comum as pessoas não terem como ver o programa, em virtude do horário (é um programa vespertino). Em geral, o Sem Censura é repetido mais tarde. O que não muda muito dificuldade de muita gente que deseja vê-lo. A reprise costuma ser à 1h da manhã. Depois, pode acontecer de repetir mais vezes, mas não há como saber quando.

No ano de 2008, meu amigo índio véi Zahar, gravou e editou, colocando os trechos de minha participação no YouTube.

Desta vez mais recente, foi minha querida amiga Jade, que se deu a esse trabalho. Eu fui lá para falar do livro Vivências Fora do Corpo - a avenura de cada um, lançado recentemente pela Gnosis Editorial
(www.gnosis-ed.com.br), que escrevi com Elione Medeiros, Silvya Rawicz, Drauzio Milagres e Luiz Otávio Zahar, e organizei, livro este que traz o prefácio de Geraldo Medeiros Jr., do Instituto Medeiros de Pesquisas Avançadas (http://www.institutomedeiros.com.br/impa/publier4.0 )

Participaram comigo no programa, também como entrevistados, o médico Franklin Santana Santos — que estava divulgando um livro sobre experiências de quase morte e um evento sobre mente e corpo, que aconteceria um pouco mais tarde, em Sampa; o terapeuta de vidas passadas Milton Menezes; o jornalista Marcel Souto Maior, biógrafo de Chico Xavier, com uma nova edição de seu livro a respeito do médium, e o cineasta Wagner de Assis, diretor de 'Nosso Lar', que estava ainda a alguns dias do lançamento.

Mas aqui Jade reproduz não o programa inteiro, e sim os trechos de minha participação, conforme nos solicitaram muito os nossos amigos e leitores. De modo que aqueles que não puderam ver no dia, nem assistir a alguma reprise, podem agora dar uma conferida.

video 1 - Bem curtinho, é a parte em que Leda Nagle me apresenta



video 2 - Aqui eu falo sobre as experiências de quase-morte, como comentário a respeito das colocações do médico Franklin Santana Santos 



video 3 - Enfim, aqui eu falo mais sobre as experiências fora do corpo propriamente ditas e do livro Vivências Fora do Corpoa aventura de cada um.

Espero que vocês gostem.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Amo-te por nada, Amor Meu


Amo-te por nada, Amor Meu.

Por amar-te, simplesmente.
E amar-te é toda razão de que preciso,
toda explicação,
todo juízo.

Flor secreta do Dragão,
que ouves na noite
                             o meu chamado
o meu amor, teu medo
o teu amor, segredo
                             que procuras esquecer,
amo-te por nada.


E se te amo, Amor Meu,
e muito, e tanto,
basta amar-te intensamente
e esperar-te por enquanto.

Aguardar tua chegada,
o despertar, a cavalgada,
para longe do castelo
tão seguro
transformado, obscuro, em labirinto,
é pra sempre,
mas eu sinto, não é tempo a eternidade.
É intensidade.

Amo-te, Ah! Amo-te!
E por nada, Amor Meu.
Por amar-te, simplesmente.
Para despertar contigo
ser teu par, teu grande amor,
guardião, melhor amigo.

Mas teu medo do que queres
faz fugires do que amas,
e de volta ao teu castelo,
ficas só, e só te enganas.
Como flor que desespera,
e escolhe, imprudente,
retomar estrada antiga,
renegar o amor que sente.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Seja gentil, ou...


As reticências do título parecem uma ameaça, não é? Mas se eu explicar, possivelmente vai dar pra entender. A gentileza é, talvez, um dos maiores valores humanos, e a manifestação real de toda boa-vontade que podemos ter uns em relação aos outros. Talvez seja mesmo um valor espiritual. Vai além daquilo que se cumpre por obrigação, além do estritamente necessário. É um presente que damos de nós mesmos aos outros, inclusive àqueles que não conhecemos, ou que conhecemos muito pouco. Possivelmente em virtude disso mesmo, a gentileza é ave rara, coisa cada vez mais difícil de se encontrar. A gente pede, seja gentil, mas ninguém parece levar a sério. Tente achar um pouco de gentileza por aí. No Metrô, por exemplo.


Desagradável, às vezes, o Metrô, né não? A gente desembarca e vai pra escada rolante. Se estiver com pressa, babau! Aquele monte de gente, congestionando a tal escada mágica e supostamente rápida, não está nem aí pra sua pressa. Congelam em suas posições e azar o seu. E se você for subindo, tentando abrir caminho naquela massa auto-hipnotizada, corre o risco de acordá-los. E aí será olhado como um ser de outro planeta. E, pior, de um planeta inimigo! Como é que você não sabe que a escada dos apressados é aquela comum, que não se movimenta, que “não rola”? Escada rolante é pra gente ficar ali, paradão... E de preferência espalhado mesmo, barrando o caminho dos outros. Sem a gentileza de deixar espaço pra quem quiser subir por ela, caminhando. Quem mandou ter pressa?
O profeta Gentileza



“Tá com pressa, vai de táxi”, dizia-se, há algum tempo, a quem reclamava da lerdeza daquelas lacraias moto-mecânicas que o vulgo chama “ônibus”. Como praticamente não ando mais de buzum — ou é o Metrô mesmo, ou, paciência, táxi — não sei se a gracinha persevera na originalidade das piadinhas infelizes dos também infelizes e desiludidos passageiros. Mas o interessante da questão é o quanto o cidadão adora fazer pouco do próximo, mesmo quando sofre na carne o mesmo pouco caso e a mesma desconsideração que ele. Ou até por causa disto. Custava ser gentil?

Sim. Custava sim. Ser gentil não está mais entre as prioridades dos habitantes das grandes cidades. Nem mesmo nas do carioca — de nascimento ou adoção — que já foi considerado alegre, gentil e engraçado. Não é mais. Seja na escada rolante do Metrô (tá valendo também pra esteira rolante), seja no buzum, seja em qualquer aspecto da vida da cidade, é gentileza zero: o pouco caso e a grosseria são democráticos. Quer ver só?

Experimente observar aqueles artistas que ficam parados, no meio da rua, fingindo-se de estátua e atraindo o povaréu, que se encanta com aquela imobilidade aparentemente impossível para um ser vivo. As pessoas vão chegando, maravilhadas, e ficam ali, por longos momentos, embasbacadas com aquele fenômeno. Depois de satisfeitas, simplesmente vão-se embora, ignorando estrategicamente o recipiente (cumbuca, caixa ou chapéu) que está ali aos pés do artista, aguardando algumas moedas ou umas poucas notas.

Bem, depois de dar a sua contribuição (pelo menos você, seja gentil...) encaminhe-se à pracinha mais próxima, onde poderá ver, talvez, capoeiristas exibindo sua agilidade e beleza de movimentos, ou um artista tocando o seu instrumento e/ou cantando. Aqui no Rio, pelo menos há pouco tempo, não era incomum a gente ver também atores populares — no Largo da Carioca, por exemplo — com esquetes e tudo, dando um verdadeiro show de humor, e fazendo a gente — você, eu, o boy a caminho do banco, engravatados em geral, aposentados em trânsito, faxineiras, bacharéis, ciças e gabriéis — dar boas risadas e esquecer, por alguns instantes, os problemas tão insistentes, a maioria ainda sem resolução presumível.

Talvez você encontre esses admiráveis artistas também nas praças de sua cidade. Se encontrar, seja gentil. Aplauda e deixe a sua contribuição. Porque o mais provável é que a maioria das pessoas ali presentes, na maior má-fé, vai ignorar solenemente o fato de que, tanto o humano/estátua, quanto os capoeiristas, os atores, músicos e outros artistas, estão trabalhando, alegrando a gente, e que ninguém é obrigado a parar, para usufruir da arte alheia (que, pro artista, é trabalho!). E vão se mandar, concentradíssimos em suas vidas, em seu pouco dinheiro e em o quanto o mundo é injusto com eles. Bem-feito. Custava ser gentil?

É, custava mesmo. Se você passar depois pelo shopping mais próximo, poderá também experimentar aquelas pessoinhas sonolentas que trabalham em algumas das lojas, e que insistem em conceder à gente o dom da invisibilidade. E que quando nos vêem, aborrecem-se de ter de trabalhar. Uma dessas prebendas virou-se para uma de minhas maiores amigas — que, além de coroa, como eu, é de porte avantajado, gordinha — que procurava roupas bonitas para presentear uma magra e jovem sobrinha, e saiu-se com essa: “— Não temos nada para a senhora não...”. O que demonstra que a falta de gentileza pode andar de mãos dadas, namorandinho com a estupidez... E em geral anda...

Então, assim é a regra. Seja no Metrô (nos trens também tá valendo deixar de pé quem tem assento preferencial), seja junto aos artistas de rua, ou mesmo ao cidadão comum, que passa pela gente, ao cliente que entra na loja dos sonolentos, a gentileza não conta. Ser gentil significa atenção, conceder visibilidade ao outro, ter de pensar (talvez o maior de todos os obstáculos), sair da auto-hipnose, da robotização nossa de cada dia, significa ser gente de verdade. E se olharmos mais atentamente, veremos que gentileza é raridade também no ambiente de trabalho, nos serviços públicos, ou no meio da rua, no condomínio, na comunidade, em qualquer das esquinas da vida. “Gentileza gera gentileza”, já dizia o profeta de mesmo nome, que inspirou o Rio por tantos anos... Talvez não seja por acaso o fato de que, em geral — seja no estabelecimento comercial, na rua, ou mesmo na vida pessoal de quem não sabe ou não quer ser gentil — onde falta gentileza é exatamente onde sobram problemas. Ou, pelo menos, é aí que eles começam.

Gentileza? Como a escada reservada no Metrô aos apressados, gentileza “não rola”. Quem pode esperar boa-vontade alheia, quando não dedica um mínimo que seja de suas energias a ser gentil? Então, a gente continua pedindo, sugerindo, até implorando. Mas desta vez dá o troco e completa a frase do título: Seja gentil, ou... dane-se!
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